A dor nas costas era o ponto mais crítico, mas no meu pacote ainda vinha queda de cabelo (cheguei a ficar com falhas na cabeça e não houve tratamento que funcionasse), menstruação irregular (tenho pequenos cistos), uma gastrite aguda (que foi curada anteriormente), calázios (cheguei a ter 3 ao mesmo tempo) e dentes trincados por causa do bruxismo.
Ainda assim eu continuava priorizando o trabalho. Minha família havia passado por alguns problemas e na minha cabeça eu conseguiria resolver tudo sozinha. Então tudo isso foi acumulando em parte por uma vontade de melhorar as coisas em casa, e em parte porque eu gosto muito do que faço. Além do volume grande de trabalho eu inventava mais atividades para fazer, ficando sempre sobrecarregada.
Saí da primeira sessão de acupuntura desnorteada. O Professor percebeu uma fraqueza nos meus rins e eu não esperava que a massagem fosse daquele jeito. A aplicação das agulhas foi bem tranquila, só senti uma pressão nos pontos em que foram inseridas. Mas a massagem, gente! Foi como faquinhas entrando nos meus braços e pernas. O Professor me explicou que a dor era sinal de bloqueio e conforme eu fosse melhorando ela passaria. No fim da sessão era como se algo dentro de mim tivesse sido chacoalhado várias vezes. Lembro de ir para o carro depois meio zureta mas bem aliviada. Que misto de sensações!
Senti muito sono nos dias seguintes às primeiras sessões. Eu estava acostumada a ir dormir muito tarde. Já teve época em que eu trabalhava de manhã em casa, ia para o trabalho, voltava e continuava trabalhando até de madrugada. Escrevendo isso agora percebo a minha falta de noção. Depois da acupuntura, mesmo se eu quisesse ficar trabalhando até de madrugada eu não conseguia ficar acordada. Meu corpo começava a desligar e eu resolvi não lutar contra o que ele estava dizendo. Dormi muito pelas próximas semanas, tive que reajustar várias atividades por causa do sono que sentia e isso me fez rever minhas prioridades.
Quebrar esse ciclo intenso de trabalho/preocupações não foi fácil (e ainda não é) porque é a forma que estou acostumada a viver há muitos anos. Mas aos poucos tenho conseguido diminuir o ritmo e mudar alguns hábitos. Eu ficava esperando o momento ideal: “Quando eu terminar isso, vou descansar”. “Assim que tiver tudo certo, eu posso fazer algo que eu quero”. Coisas assim. Mas a ideia é ir mudando de pouquinho em pouquinho a partir de agora, porque esse momento ideal dificilmente vai chegar um dia. Isso eu comecei a entender melhor com a acupuntura e o Tai Chi.
Tanto a acupuntura quanto o Tai Chi não são atividades passivas. Apesar dos benefícios imediatos de uma sessão serem perceptíveis, a melhora real só acontece quando a gente realmente se predispõe a colaborar. Aprender a descansar, se alimentar melhor e a respeitar os limites do corpo é muito importante.
No meu caso, eu melhorei bastante em muitos aspectos com a acupuntura. Meu cabelo ficou mais cheio, a menstruação ficou regulada pela primeira vez na vida, os calázios diminuiram. Passei o ano inteiro sem que minhas costas travassem e não tive nenhum torcicolo. A massagem das faquinhas realmente ficou menos dolorosa. Com menos dor no dia a dia, também fui ficando mais disposta. É uma vitória!
Mas tiveram momentos em que abusei um pouco e foram nessas horas que eu voltava a sentir alguma dor. É muito interessante como a acupuntura aumenta nossa sensibilidade para perceber as mudanças do corpo e começamos a assumir a responsabilidade sobre elas. É um estado de atenção constante.
Comecei 2016 fazendo duas sessões de acupuntura por semana e fui diminuindo. Hoje estou fazendo uma vez por mês e o Tai Chi uma vez por semana. Continuo tomando o chá e me alimentando bem. Eu ainda estou aprendendo a descansar, consciente de que um hábito de quase 10 anos pode demorar para ser mudado. Mas seguindo firme e constante, sei que uma hora eu consigo!
17/01/2017 Marcella Tamayo